15/05/2014

Quando a Severa morreu

Autor: Manuel Andrade

Hora morta, hora tardia,
Nem um sussurro se ouvia
Nessas ruelas desertas
Debaixo dum candeeiro
Estava um ramo de loureiro
E duas portas abertas

E de dentro, vagamente,
Sons de guitarra dormente
Entre sussurros saíram,
Estava a findar a rambóia
Quando trotando à tipóia
Duas pilecas se ouviram

Saiu triste e desgostoso
O conde de Vimioso
De dentro da carruagem
Calaram-se admirados
Os fadistas avinhados
Da taberna do Friagem

Quando a guitarra abraçou
O conde triste tocou
Um fado estranho e sombrio
E à luz fria da lanterna
No silêncio da taberna
Longo suluçar se ouviu

Saiu o conde a chorar
Ouviu-se outra vez trotar
A tipóia que o trouxera
Naquela noite diferente
Veio a saber toda a gente
Tinha morrido a Severa